segunda-feira, 2 de abril de 2012

Tradição ameaçada - gazeta online

Tradição ameaçada - gazeta online
A revitalização do cais comercial de Vitória ampliará o pátio de cargas de 26 mil metros quadrados para 40 mil metros quadrados, com a demolição de galpões do porto; e ainda, com o aterro de 22 metros em largura e 100 metros em comprimento sobre a baía, incluindo o espaço utilizado pelos catraieiros desde 1940.
O relatório de impacto do Iema, O Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, constata a inviabilização da atividade desenvolvida pelos catraieiros; ainda, prevê a interferência temporária no uso do canal por embarcações pesqueiras e possíveis abalos ao entorno. O Iema estabelece condicionantes para amenizar a situação da população impactada, que deveria ser convocada para reuniões que a informasse sobre o projeto, a fim de realizar as adequações sugeridas por suas entidades representativas.

O fato é que a maior obra portuária desde a construção do Cais de Capuaba, divulgada em 2010, vinha passando despercebida pela opinião pública. Com a manifestação de insatisfação por parte dos catraieiros, o impasse se expõe no que se refere ao deslocamento do seu antigo ponto que torna seu percurso mais lento e perigoso. Os catraieiros cederam todo o espaço ocupado desde o século XVI para as atividades portuárias modernas.

Constituem remanescentes de ofício tradicional, com processo de tombamento como bem imaterial, sob o respaldo de direitos humanos de população tradicional (Convenção 169 OIT). A atual situação dos catraieiros deve ser revista pela autoridade portuária. Afinal, cumprem uma função que o Estado ignora: a implantação do transporte hidroviário em cidades com potencial para desenvolver este sistema. Por fim, advém uma questão: quanto tempo de sobrevida comercial do Porto de Vitória justifica a perda de uma atividade histórica e a impossibilidade da reimplantação do sistema de transporte hidroviário na Baía de Vitória?
Clara Luiza Miranda é professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Ufes

Nota:
Quando escrevi esse artigo (3 semanas antes de ser publicado) não tinha acesso ao projeto de revitalização do Cais Comercial de Vitória, berços 1 e 2, apenas noticias de jornais on line em que se disponibilizava links para videos do youtube, que dão a entender que os galpões seriam derrubados. No projeto que tive acesso, obra licenciada em andamento até dezembro de 2012,  não consta demolição dos galpões.

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